Nestes últimos dias fui a vários eventos e visitei Alphaville duas vezes. Andei muito de táxi, coisa que não fazia há tempos. Tenho usado muito meu carro para tudo. Mas quando vou a algum lugar que não conheço, prefiro apelar para quem sabe chegar. Poupa tempo e dinheiro.
Bem, em todos esses eventos encontrei colegas, o que foi ótimo. Nas idas e vindas de táxi encontrei quem realmente merece referência: os taxistas. Eles fazer um livro de bordo. Não sei como ainda não lançaram uma autobiografia tipo: “Eu e meu táxi”. Ou: “Se meu táxi falasse”. Se até o Justin Bebber tinha o que escrever em uma biografia, imagina esses taxistas, que rodam pela cidade, conversam com diferentes pessoas, levam muita bronca de graça, presenciam acidentes, roubos, visitam becos, enfim… Eles mereciam um livro!
Como eu não tenho tempo para tanto, dou uma pequena colaboração para ele: os taxistas. Tive um que se tornou meu amigo. Ia me buscar sempre em casa, já conhecia meu filho. Era de confiança. O apelido dele era “janela”. Vocês podem imaginar porque ele tinha esse codinome…
Além dessa pessoa, encontrei vários que valem ser citados. Um deles, uma vez, sem saber, me contou a história de uma moça muito chata que insistiu em ficar dentro do taxi dele com uma colega grávida (oito meses), na chuva. Segundo ele, a moça entrou no carro e pediu para seguir viagem, ao lado da outra com uma enorme barriga.
No caminho, ele perguntou o nome e percebeu que estava com o passageiro errado. Aí ele fez o que achava correto: parou o veículo e mandou as moças descerem ali mesmo, na rua, na chuva… Eu lembrei logo da história porque, claro, a “moça chata” que ele se referia era eu… A grávida era minha colega de trabalho Francine, que estava com os pés inchados, praticamente para dar a luz… Eu fiquei ouvindo ele contar a história e ficou claro como as versões mudam de acordo com a visão de cada um.
Para ele, a tal moça (eu!), devia ter entendido que, se ele seguisse a viagem, teria que repassar o dinheiro da corrida para o colega que estava lá na frente da empresa esperando as duas pessoas que ele pegou por engano. Neste momento eu me lembrei do escândalo que eu aprontei quando ele parou o carro e disse que eu e a Francine deveríamos descer ali mesmo, no meio da Avenida Faria Lima, na tempestade…
Claro que não descemos e ele, com muita má vontade, teve que nos levar até o destino. E só ali, anos depois, eu estava entendendo o tamanho do problema que eu criei para aquele taxista. Por ter pegado uma corrida de outro (mesmo não sendo proposital), ele foi suspenso pela cooperativa em que trabalhava. Ficou um mês parado. Teve que repassar o dinheiro da corrida para o colega que foi até a empresa nos buscar.
Aquilo marcou tanto aquele taxista que ele conta a história com ressentimento, mesmo sem ter ideia para quem está falando… Enfim, me senti péssima (mesmo tendo razão em ter lutado para não deixar minha colega de quase nove meses no meio da rua, na chuva). Não falei nada que a tal “moça chata” que ele se referia naquele conto era eu… Saí dali refletindo que eu fiz mal a uma pessoa sem saber. Foi mal!
Bem, nem só de reclamações e histórias ruins vivem esses profissionais que dirigem o dia inteiro. Encontrei um que quando chegou ao destino já tinha me contado toda a vida dele, o orgulho que tinha dos filhos e até a traição da esposa, que o inspirou a escrever um “livro”. Enquanto eu assinava o cheque, ele finalizou: tudo isso que eu te contei está aqui e tirou do porta luvas um caderno cheio de desenhos na capa, com muitas páginas escritas à mão. E ele queria que eu lesse!!!!!! Eu pedi desculpas e avisei que estava atrasada para uma reunião. Mas ele insistia… “Você é uma moça letrada , podia ler e me ajudar a publicar”, disse ele. Que dó! Mas fico pensando… Como alguém expõe sua vida daquela forma, descrevendo até a traição da esposa e quer que isso vire best-seller…
Mas acho que eu provoco interatividade. Adoro conversar. E quando estou no táxi, acho que eles percebem isso facilmente. Então eu vou ouvindo, dando algumas opiniões.
Ah! Lembrei-me de outra boa… Outro dia eu estava com algumas colegas no carro voltando de um cliente. Muitas
Dr. Taxista
mulheres juntas, fim de tarde, muito trânsito, acabou em terapia… E o terapeuta era o taxista!!! Depois de ouvir quatro mulheres falando dos problemas pessoais, no estacionamento da empresa, ele disparou para uma colega: “menina, você é jovem. Logo mais vai arrumar namorado. Fique tranquila”. Para mim: “olha, eu não quero me meter, mas acho que você devia parar de ser controladora. Homem não gosta disso, não”. Bem, aí, diante da situação cômica, começamos a perguntar pontualmente a opinião do taxista sobre cada tema, defendendo nosso ponto de vista feminino, claro…
Enfim, dá mesmo para escrever um livro com as coisas que já ouvi desses profissionais. Tem histórias cômicas, tristes, inusitadas, chatas, de todo tipo. Mas, sabendo ouvir e refletir dá para tirar algumas lições. Uma delas que ficou para mim: nunca diga que vc conhece o taxista de algum lugar… Uma viagem de táxi pode até ser legal, mesmo quando pegamos aquele pessoal das antigas que brecam a cada minuto, provocando náuseas (já peguei vários assim). Mas eu respeito. Eles estão ali trabalhando, brigando pelo que vão comer no dia seguinte.
Para concluir, o táxi é um dos poucos lugares onde eu sento e ouço. E nem sempre é ruim. Portanto, fica aqui o meu apelo: não tratem mal esses profissionais. Muitos me falam que algumas pessoas sequer falam bom dia para eles. Sentam, fecham a cara e olham para o horizonte, como se os motoristas não existissem. Tudo bem que temos dias em que isso é tudo que queremos fazer, mas é legal lembrar que o cara sentado ali na frente não está fazendo mal a ninguém e não merece ser maltratado.